Breve Roteiro de Viagem Celeste para os tempos do Outono, Inverno, Primavera e Verão no Sítio das Estrelas Latitude 21s52 e da Longitude 43w00





Um Passeio pelo Céu Noturno do Sítio das Estrelas

OBSERVAÇÃO DE CONSTELAÇÕES E ESTRELAS
À VISTA DESARMADA OU ATRAVÉS DE BINÓCULOS

Janine Milward

Breve Roteiro de Viagem Celeste
para os tempos do Outono, Inverno, Primavera e Verão
no Sítio das Estrelas
Latitude 21s52 e da Longitude 43w00

Dois Dedos Iniciais de Prosa sobre o Céu no Sítio das Estrelas

Quando eu pensei em me afastar da cidade grande, do Rio de Janeiro, meu desejo era o de morar sob as estrelas, num lugar aonde eu pudesse sempre estar comungando com suas luzes e com suas (quase) eternidades... E logo ao chegar ao pedaço de terra que me apareceu para ser por mim adquirido, o nome Sítio das Estrelas me veio de imediato à mente.

O Sítio das Estrelas é um lugar bastante apropriado para se olhar o céu estrelado.  A bem da verdade, já foi melhor...  Quando aqui cheguei, em 1998, a provinciana cidadezinha  ainda abrigava uma população pequena.  Com o tempo, a cidade foi crescendo e casas foram sendo construídas para abrigar as novas famílias, os bairros surgiram e a iluminação feérica também!  Sendo assim, no Sítio das Estrelas, nosso norte não é nada bom pela presença da cidade próxima  e também nosso noroeste, da mesma forma, porque ali podemos ver a iluminação crescente advinda da cidade de Juiz de Fora, distante a cerca de 60 quilômetros!  Portanto, norte e noroeste acabam ficando comprometidos com a poluição luminosa... mas, mesmo assim, sempre podemos observar grandes espetáculos. No entanto, nosso leste e nosso sul e o zênite são bem mais interessantes, sem dúvida alguma... por enquanto... 

 Aqui podemos ver a olho nú as duas Nuvens de Magalhães, a Cabeleira de Berenice, A Colmeia de Abelhas (M-44) ou Presépio, a Caixinha de Jóias, A Espada do Órion (M-42).... Também podemos acompanhar alguns serpenteados nos céus: o rio Eridanus começando bem ao sul e terminando aos pés do Gigante e Caçador Órion; a Hydra com sua cabeça triangular começando bem próxima ao Presépio e caminhando delicadamente, delineando, algumas constelações como a Taça, o Corvo, a Virgem, indo se esconder na Balança; a Cabeça da Serpente guardando as maravilhosas estrelas da Corona Borealis; a preciosidade e delicadeza das estrelinhas que compõem a Corona Australis; a Cabeleira de Berenice, quase um enxame de estrelas extremamente tímidas entre o Leão garboso e o Boieiro... Felicidade indescritível também é podermos nadar junto aos dois Peixes em seu mar celeste após termos quase que surfado nas ondas marolantes das estrelinhas tímidas e em ziguezague do Aquário, o Aguadeiro, advindos do Capricórnio que mais parece uma fraldinha de nenê... Infelizmente não dá para ver Andrômeda, a galáxia, a olho nu porque para os lados do norte e noroeste situa-se a cidade de Mar de Hespanha.... e um tantinho mais adiante, ocupando o noroeste e parte do oeste, situa-se a cidade de Juiz de Fora.

Bem, caro Caminhante, para o leitor que entende um pouquinho do céu estrelado, os nomes acima mencionados evocam emoção, estremecimento e felicidade: ver tudo isso a olho nú significa que o céu desse lugar é bem escuro e transparente..... Para o leigo, tudo isso significa o tanto que podemos ainda aprender juntos, realizando um verdadeiro Passeio pelo Céu Noturno do Sítio das Estrelas!

Confesso ao Caminhante que sinto um imenso prazer em morar num lugar onde posso jantar olhando para algum Planeta caindo no oeste... (no carnaval passado, a Caminhante que aqui esteve, levantou seus olhos do prato e se viu ‘pega’ por uma luz intensa, no oeste..., e me perguntou: “que luz é aquela?”  Eu respondi: “é Júpiter!”); posso acordar sob o albedo de Vênus ou de Júpiter resvalando por sobre minha cama; posso dormir sob a mira dos raios luminosos da Lua Cheia ou de outras Luas mais tímidas; posso, sempre que quero, sair para o gramado para saudar as estrelas, os planetas, me deixar surpreender por um risco cruzando os céus, uma estrela cadente... e fazer um pedido...; posso suspirar ao apontar para Omega Centauri com meus simples binóculos e então, em noites verdadeiramente escuras e transparentes, tentar divisar este belíssimo objeto, com a visão enviesada...

Eu diria, caro Caminhante, que me encanta o céu estrelado e é por isso que vim viver no Sítio das Estrelas.

Grande parte de minha vida noturna é dedicada a me deixar ser coberta pelo manto estrelado da nossa Via Láctea... e observar as luzes piscantes das estrelas observadas a olho nú – algumas vezes bem sumidas, fugidias (como aquelas da Cabeleira de Berenice, Aquário, Presépio, Hidra, Rio Eridano, por exemplo); a lâmpada acesa dos Planetas movendo-se para frente e para trás contra o pano de fundo das constelações, o caminho que a Lua, doce e mutável Lua vai traçando noite após noite, dia após dia; os chumaços de algodão que vão percorrendo os céus nos revelando a Galáxia onde vivemos e seu revirão na cauda do Escorpião..., bem como outras galáxias... agrupamentos, nebulosas...; um rasgo de luz de um meteoro cruzando o céu.... - todos marchando através da abóbada celeste, revelando seus segredos e sua beleza!


O CÉU DO OUTONO
no Sítio das Estrelas

Janine Milward

OBSERVAÇÃO DE CONSTELAÇÕES E ESTRELAS
À VISTA DESARMADA OU ATRAVÉS DE BINÓCULOS


Quando o outono chega, aqui na Zona da Mata das Minas Gerais, as chuvas do verão vão escasseando de tal forma até se tornarem apenas uma lembrança... As noites voltam a mostrar suas estrelas em céu sem nuvens e o ar bem mais seco permite que suas luzes fiquem bem mais brilhantes e piscantes contra o pano de fundo da escuridão da abóbada celeste. Por que não aproveitarmos esses tempos de início seca do outono para observarmos o céu noturno, em belo passeio?

Ao começar nosso tour celeste, nestes dias de março, podemos ainda bem observar o adeus dos mares aonde a Baleia Cetus e os Peixes nadam vigorosamente... Também já nos despedimos do grande quadrado do cavalo alado Pégasus colado à constelação de Andrômeda e entre ambos, a luz fugidia e a olho nú bem enviesado da Galáxia com o nome da donzela que se apresenta maravilhosamente a nossos olhos revestidos com um simples par de binóculos e melhor ainda, através das lentes do telescópio.

Vale a pena observarmos um dos dois círculos formados pelas estrelas dos Peixes quase ao centro do grande quadrado formado pela constelação de Pegasus, imensa constelação, realmente.  É bem neste ponto que encontra-se o Ponto Vernal, o equinócio da primavera.

Olhando em linha quase reta para o sul, poderemos ainda ver a Pequena Nuvem já quase caindo no oeste enquanto a Grande Nuvem de Magalhães ainda a acompanha de longe, permanecendo um pouco mais de tempo nos céus. Aqui na roça, um antigo caseiro meu, as chamava de as Mulas do Presépio! Pobre Fernão de Magalhães que nos perdoe!

Quando o céu escurece por todo, já também o Carneiro, Áries,  se coloca em posição de caída no horizonte oeste, levando consigo, mais ao norte, o herói Perseus que caminha juntamente com aquelas que nos chamam a atenção e nos trazem seus suspiros: as Plêiades que sempre me parecem um tercinho, um rosário.... por que não contá-las? Quatro, cinco, seis, sete.... doze....?

Estamos entrando, então, nos campos aonde o Touro pasta... e encontramos Aldebarã, o Olho do Touro, sua alfa - como é avermelhada, esta gigante.... será que algum dia poderemos vê-la explodindo em supernova? E as Hyades, não parecem uma arvorezinha de natal? Visto do sul, o Touro fica de cabeça para baixo...

Já quase caindo no oeste e bem mais ao sul de Cetus, ainda nos atrai a beleza de Achernar, o começo (ou o fim) do Rio Eridanus. O Eridanus corre sinuoso e tímido através dos céus até se encontrar com Rigel, o pé do Gigante Órion. Esse Rio tão belo pode apenas ser observado em céus escuros e transparentes, longe das luzes urbanas... assim como no Sítio das Estrelas.

Órion é reconhecidamente uma das mais belas constelação do céu estrelado. Seu Cinturão, as chamadas Três Marias (Alnilan, Mintaka e Alnitak), carregam a linha do equador celeste, ou seja, ao vermos o Gigante, podemos distinguir aquilo que pertence mais ao norte e aquilo que pertence mais ao sul.

Nesse momento de preciosa escuridão, por que não divisarmos todos os detalhes da figura do Gigante poderoso dos céus? Adoro ver seu Escudo, desafiadoramente enfrentando o Olho do Touro, Aldebarã. Sua cabeça é simples porém seus ombros trazem duas preciosidades: Belatrix e Betelgeuse. Porém, o melhor de Órion pode ser divisado a olho nú, apreciado através de binóculos e transformando o sonho em realidade através de bons telescópios: M42, seu berço de estrelas, parte da Espada do Gigante Caçador dos céus.  Rigel é a estrela-beta desta constelação e é a seus pés que o Rio Eridanus começa a acontecer, já tendo sido anunciado anteriormente (pois caminha de volta ao leste) por sua Foz realizada pela estrela-alfa Achernar

Não podemos nos esquecer que os Cães seguem o Gigante Órion em suas caçadas: O Cão Maior e o Cão Menor. Sírius, a mais bela e mais brilhante do céu, é sem dúvida, sempre esperada com ansiedade. Ainda no Cão Maior, binóculos podem ajudar no achado de chumaços simpáticos de estrelas, algumas que pertencem ao Cão Maior e outras que já fazem parte da Popa do Navio. Procyon, alfa do Cão Menor, vem sempre quase junto a Sírius, porém um tantinho atrás, como se fosse uma dama de companhia e já fazendo parte da côrte dos irmãos gêmeos Castor e Pollux.

Uma estrela pisca bem ao norte... quem será? É Capela, alfa do Cocheiro! Realmente, esta estrela sempre nos chama a atenção pois que se encontra num lugar do céu do norte pouco habitado por grandes luzes.

Se bem percebermos, Já desde Perseus, passando pelo Cocheiro, caminhando entre o Touro e os pés dos Gêmeos e inundando o Cão Maior com seu brilho esfumaçado, realçando Sírius e navegando o Navio capitaneado por Canopus adentro (o Navio foi desmembrado em Popa, Vela, Carina)... e mergulhando no Cruzeiro do Sul (que volta a nos encantar com sua presença no céu do outono), enfim, marcando sua presença inefavelmente e inegavelmente, eis que vemos a Via Láctea com sua mancha esbranquiçada, algodão divino, leite derramado por tantas e tantas estrelas.... Em céus escuros como aqui no Sítio das Estrelas, bem podemos divisar o Saco de Carvão e outras manchas escuras na via esbranquiçada ao longo do Cruzeiro e redondezas e também enxames de algodão brilhante - como a Caixinha de Jóias, por exemplo. 

E, ajudados por um bom par de binóculos, podemos nos deixar  deslumbrar com a visão de Omega Centauri, um chumaço de estrelas conjugadas e formando um brilhante grande círculo!  Falando em Centauro, por que não apreciarmos suas estrelas ponteadoras de  seus pés, Alfa e Beta Centauri - sendo que a primeira nos apresenta o lugar onde se encontra Próxima Centauri, assim nomeada por ser a estrela mais próxima de nós, terráqueos, de nosso sistema solar.  A bem da verdade, Alfa Centauri - também conhecida como Bungula ou Rigelkent - é um sistema triplo acolhendo a estrela mais perto de nós..

Também outros belíssimos tesouros podem ser vistos entre o Cão Maior e o Cruzeiro do Sul (muitos deles na Popa do Navio), chumaços de estrelas formando belíssimos aglomerados que podem ser divisados a olho nú em lugares de céu bem escuros e transparentes.

Em abril, o tempo se afirma em sua secura e quando a noite cai, podemos sempre observar os dois Gêmeos celestes, Castor e Pólux caminhando, literalmente pisando sobre a Via Láctea. É bem nos Gêmeos, na altura do ombro de Pólux, que se encontra o ponto do solstício de junho, trazendo o inverno para o sul e o verão para o norte, o ponto aonde a Terra se encontra mais distante em seu tour ao redor do Sol. As estrelinhas de Castor e Pólux podem ser estudadas bem esmiuçadamente porque aparecem bem distintamente em céus da roça escura, sem luz elétrica.  (Confesso a você, Caminhante dos Céus, que o Sol transitava pelas pernas dos Gêmeos quando eu nasci!).

A ausência de luz elétrica e de poluição da atmosfera nesses tempos de abril e maio e junho, nos deixam entrever a constelação tímida de Câncer, o Caranguejo. Aqui no Sítio das Estrelas certamente podemos ver (e ver bem) M-44, o Presépio, ou a Colmeia de Abelhas, um verdadeiro berço de estrelas-crianças que viajam juntas e formam para nossos olhos uma lua cheia de luzes fugazes.  É interessantes sabermos que o Caminho da Eclíptica passa pelo Presépio e é sempre uma grande honra podermos observar Planetas - ou mesmo a Lua crescendo ou minguando, sem muita luminosidade, é claro - sendo aconchegados pela grande lua cheia de estrelinhas tímidas que compõem o berço do Presépio!

Junto ao Caranguejo, em direção ao sul, podemos ver a Cabeça da Hydra e seu corpo sinuoso de estrelas pouco cintilantes rastejando pelos céus, enredilhando-se na Taça, no Corvo, na Virgem, finalizando, aparentemente, nas duas estrelas ponteadoras da Balança... Alfard, a alfa e o Coração da Hydra, bate avermelhadamente na noite escura e silenciosa.

Estamos agora nos dirigindo para nosso encontro com o garboso Leão, com suas estrelas alpha e beta, Regulus e Denébola, uma das patas dianteiras e a cauda do vigoroso felino.  Mais ao norte do Leão, podemos com certeza, nos deliciar com grande parte do corpo da Ursa Maior, constelação norteante que aponta também para a Ursa Menor, que traz em sua cauda, a Estrela Polar (longe de nossos olhos do sul).

Bem ao sul, o Cruzeiro chega mais cedo a cada noite, sendo devidamente anunciado pelas duas estrelas que formam os pés do Centauro. A estrela alpha do Centauro, Rigel Kent, é um conjunto de três estrelas sendo que uma delas é a chamada Próxima Centauro... e por que? Porque é a estrela mais próxima de nós, de nosso Sistema Solar!

Aproveite as noites de maio para melhor observar as estrelas do sul ainda mais ao sul do que o Cruzeiro. A Mosca é perfeitamente divisada assim como o Triângulo Austral. Por que não procurarmos pelo ponto do sul verdadeiro, o pólo sul? Não é difícil de chegarmos ao polo sul quando estamos sob um céu escuro e transparente porque as constelações que o rodeiam, mesmo que compostas de tímidas estrelas, podem ser bem delineadas.

É realmente interessante observarmos o fato de que todo o céu mais ao sul tende a ir se concentrando, concentrando, como se estivesse passando por um funil.... Assim, as constelações e suas estrelas mais ao sul parecem deslizar ao longo da abóbada celeste como se fizessem uma elipse alongada, começando no sudeste, passando pelo zênite voltado para o sul e finalizando no sudoeste.  Constelações como o Escorpião e o Corvo, por exemplo, apresentam seu rastejar e seu vôo, respectivamente, inteiramente contidos dentro dessa elipse alongada.  O Navio também parece navegar nos mares celestes realizando esse trajeto, porém de maneira bem mais aproximada ao pólo sul, realmente. Podemos pensar, como num exemplo, o sul como uma vasilha em seu ponto de encontro com a mesa, em sua base, e a abertura da vasilha, seu vazio, como representativo do norte (será que me expliquei bem?)

 Ah, eu gostaria de poder um dia ir a algum ponto bem ao sul do Planeta para poder observar o Cruzeiro do Sul e o Navio, por exemplo, durante toda a noite, assim como se dançassem uma roda de cantigas celestes!  Ah, eu gostaria de um dia poder ir a algum ponto bem ao norte do Planeta para poder observar o Navio navegando alhures, distante, e espraiando-se pelo oceano sem fim!

Tenho sempre um imenso prazer quando o Corvo começa a fazer seu vôo pelos céus, cruzando o leste mais o sul, fazendo quase uma meia-girada simbolizando um real vôo, até desaparecer no horizonte oeste, ao longo de sua passagem de alguns meses no ano.... Já desde final de março, início de abril, que podemos ver este pássaro nos céus, radioso, voando, voando, deslizando com seu vôo suave pela abóbada dos céus do sul.

No entanto, não podemos nos esquecer que o Leão também já vem rugindo desde há bastante tempo nos céus... Visto do sul, o Leão está de cabeça para baixo porém sempre nos deixando entrever sua juba, seu pé Régulus, seu corpo iluminado por estrelas simpáticas e finalmente, sua cauda vibrante, Denébola.  O Caminho da Eclíptica passa por Regulus e então é muito comum que possamos observar esta estrela sendo conjugada com a Lua ou com algum Planeta!

A noite vai andando, maio vai seguindo seu rumo e o céu também vai andando, como num carrossel iluminado.

Mais ao norte do Leão, podemos ver o Leão Menor e umas poucas estrelinhas dos pés da Ursa Maior.... Mais ao sul, o chumaço de algodão, o leite derramado das estrelas da Via Láctea, continua invadindo o sul, sempre brilhante, enquanto que ao norte, vai desaparecendo sua luz tímida como um sonho desvanecedor... Noite adentrada, essa Via Láctea e luminosa nos traz o Escorpião, surgindo vagarosamente no leste mais ao sul, trazendo em sua cauda o revirão da Galáxia, o ponto de mutação, onde a cobra morde a cauda....

Porém, ainda no céu do começo da noite do meses de maio e junho e acompanhando o vôo do Corvo bem de perto, a Virgem chega radiosa com sua alfa, a estrela Spica. O Caminho da Eclíptica passa por Spica e é bem comum podermos observar a Lua ou algum Planeta conjugando-se à esta estrela.

Um dedinho antes da constelação da Virgem, encontra-se o ponto de interseção das linhas da eclíptica e do equador, o equinócio. Virgem traz consigo a Balança, com suas duas estrelas perfazendo os dois pratos: Zubenelgenubi e Zubenelschamalli (que antigamente eram consideradas as Garras do animalzinho rastejante dos céus e, sem dúvida alguma, isso faz o maior sentido).   O Caminho da Eclíptica passa pelas estrelas ponteadoras da Balança e, da mesma forma, passa bem próxima à Antares, a estrela alfa do Escorpião.  Depois de passar próxima  à Antares, o Caminho da Eclíptica adentra a 13a. constelação do Zodíaco, Ophiúco, aquele que segura a Serpente que pode ser delineada em sua cauda e também em sua cabeça (esta última terminando aos pés da Coroa Boreal, como se quisesse guardá-la.

Olhando mais ao norte, podemos nos deliciar com a presença de Arcturus, no Boieiro. Em locais de céu escuro – assim como no Sítio das Estrelas -, podemos divisar as tímidas estrelinhas que formam as mechas da Cabeleira de Berenice, constelação quase apagada, entre o Leão e o Boieiro. Ver a olho nú as mechas dos cabelos da bela egípcia é um real privilégio.

Em junho, quando cai a noite, já temos a figura maravilhante do Escorpião toda desenhada entre o algodão doce da Via Láctea... Como já dissemos, o Escorpião é antecedido por suas duas garras, as estrelas alpha e beta da Balança.

A cabeça deste animalzinho rastejante sobre a Via Láctea é realmente incrível, levando até seu coração batendo avermelhadamente, Antares, a rival de Ars, Marte.

É realmente belo o desenho que as estrelas do Escorpião vão nos mostrando... várias estrelas duplas que disputam a acuracidade de nossa visão... (me lembro de meu primeiro namorado me dizendo que éramos tão próximos um do outro quanto aquelas duas estrelas que formam uma das curvas do Escorpião.... palavras ao vento.... não o vejo há mais de 45 anos...). A cauda do Escorpião é realmente assustadora com a presença fulminante de Schaula... finalizando com alguns objetos maravilhosos, M-7, M-8, M-6, chumaços de algodão, bom de olhar a olho nú, melhor ainda de binóculos e telescópio.

Nesta região do céu entre o Escorpião e o Sagitário, naquela direção e além daquela poeira de estrelas, encontra-se o chamado Centro de nossa Galáxia, a Via Láctea. E como tudo no universo realiza um movimento de rotação em torno de si mesmo e em torno de algum outro objeto magnetizador, também nossa Via-Láctea realiza esse movimento.

Não podemos deixar de mencionar a imperdível visão da Coroa Austral sendo enlaçada pelo Sagitário!  A Coroa Austral é de uma delicadeza ímpar, realmente.  Se mantivermos quase a mesma direção do céu, estaremos encontrando, bem mais ao norte, a Coroa Boreal, tão bela quanto a outra Coroa e encontrando-se bem situada entre estrelas de primeiríssima grandeza como Arcturus, a alfa do Boieiro, e Vega, a alfa da Lira e próxima ao herói Hercules.

Com o andar da noite e das estrelas, outras constelações vão se aprontando, por assim dizer, para entrarem no palco da vida...

Não será tempo de irmos dormir?! Ah, eu diria para você passar uma noite em claro apenas para observar a girada da Via Láctea enquanto o céu vai caminhando todo de leste para oeste, carregando suas estrelas, planetas, constelações.... A visão do girar da Via Láctea é algo que nos deixa sem palavras....

Se você tiver a oportunidade de estar num lugar onde o céu seja escuro e transparente, poderá observar a imensa pavimentação de algodão de estrelas - a Via-Láctea - aparentemente centralizando-se no Escorpião e cobrindo o céu estrelado em direção ao norte, passando por Sagitário, pela Águia até alcançar o Cisne..., e em direção ao sul encontrando-se com nosso Cruzeiro do Sul, com o Navio, com o Cão Maior seguido do Gigante Órion e aparentemente concluindo-se no Cocheiro....  Deste ponto bem ao sul e se você estiver em Latitude bem mais ao norte do Planeta, poderá ainda comungar com a pavimentação de algodão de estrelas fazendo parte do Mito de Andromeda, a donzela acorrentada, enredilhando Perseus, seu herói salvador,  Cassiopéia, sua malvada madrasta, e seu pai, o Rei Cepheus - todas constelações bem ao norte - e, finalmente a Via Lactea realiza seu  encontro com o Cisne.

Obviamente que aquilo que vemos e acompanhamos como o Revirão da Via Láctea durante a passagem noturna do Escorpião aliado ao Sagitário é um movimento aparente – pois que, na realidade, esse aparente movimento se dá em função do movimento de rotação da nossa Terra, nosso tão querido Planeta.

O Revirão da Via Láctea é um espetáculo imperdível e inesquecível e que nos traz uma realidade da mecânica celeste que vai além à realidade que vemos do caminhar das constelações e suas estrelas, todas advindas do horizonte leste, galgando as alturas dos céus e concluindo seu passear no horizonte oeste - com as constelações e estrelas mais ao sul realizando seu caminhar em elipse do sudeste ao sudoeste e com as constelações e estrelas mais ao norte realizando seu caminhar de maneira mais espraiada, digamos assim.  A realidade do Revirão da Via Láctea parece varrer os céus, como se essa varrição viesse do sul em direção ao norte ou vice-versa..., como se fosse uma hélice, algo assim, cobrindo todas as direções, ao longo da noite e ao longo do caminhar do Escorpião, fundamentalmente.  A realidade do Revirão da Via Láctea, quando o percebemos realmente - em lugares de céus escuros e transparentes e que nos apresentem o chumaço de algodão do caminho desta Via iluminada em bom estilo!  -, nos faz tremer não somente de emoção como também em nosso labirinto interior, é quase como se perdêssemos o chão, ficamos zonzos, tontos, quase caímos, quase perdemos o equilíbrio. 

Os braços da Via Láctea, centralizados no corpo do Escorpião, vão varrendo o céu vindo do sudeste, caminhando para o leste, passando pelo noroeste, pelo norte, pelo noroeste, pelo oeste... e ainda pelo sudoeste, pelo sul, novamente pelo sudeste, noite após noite. 

Não deixe de dar uma olhada no Céu do Inverno, se você estiver desejoso de passar a noite inteira observado as constelações e suas estrelas em marcha céu adentro céu afora... ou se você estiver retornando de um programa noturno e perder o sono... ou se você gostar de acordar bem cedo, já com o canto do galo...


O CÉU DO INVERNO
No Sítio das Estrelas

Janine Milward

OBSERVAÇÃO DE CONSTELAÇÕES E ESTRELAS
À VISTA DESARMADA OU ATRAVÉS DE BINÓCULOS


Aqui na Zona da Mata das Minas Gerais, o inverno traz tempo frio, chás, cafés, casacos, gorros, meias, cobertores.... e muita vontade de olhar as estrelas porque ainda o céu está seco (antes das queimadas se aventurarem a maltratar as matas, normalmente a partir do final de julho e cobrindo os meses de agosto e setembro... até que as benditas chuvas retornem, mais para o outubro).

Certamente, é ainda o Escorpião e o ponto que leva à centralidade da Via Láctea que nos chama a atenção....  Portanto, eu aconselharia você, Caminhante dos Céus, a retornar o ponto anterior onde eu tentei descrever o Revirão da Via Láctea.

Porém, com o contínuo andamento do céu (a cada noite, tudo chega mais cedo 4 minutos), podemos agora ver bem o Sagitário, quando a noite cai. É sempre interessante observarmos o fato de que esta constelação também é denominada de Bule de Chá..., porque se parece mesmo com um! 

No ponto entre o Escorpião e o Sagitário, em lugares de céu escuro como o Sítio das Estrelas e em noites secas e transparentes, podemos ver que a Via Láctea vai recebendo vários buracos imensos de puro negrume.... verdadeiras belezas de luz e vazio para serem fotografadas!

A Via de Chumaço de Algodão, a Via Láctea, encontra a Águia que voa sempre orientada por sua estrela alfa, Altair, e este pássaro acaba sendo avizinhado por constelações pequenas e muitíssimo simpáticas, Sagitta, a Flecha, e o Delfim, por exemplo, que também são enredilhadas pelo caminho leitoso.  Ainda em direção mais ao norte, a Via Láctea parece, a meus olhos, encontrar o Cisne que traz sua cauda a estrela alfa, Deneb, e ali se esfumaçar mais e mais, rumo norte mais aprofundado e distanciado de meus olhos.  A Via Láctea estará iluminando os caminhos de constelação bem ao norte, como Cepheus, Cassiopéia, Perseus (e passando próxima à Andromeda e ao Cavalo Pegasus) e novamente retornando aos nossos olhos do sul através o Cocheiro, com sua belíssima estrela-alfa Capella, e então retomando a conversa com os Gêmeos Castor e Pollux, acompanhando o Gigante Òrion conduzindo seus dois Cães e já nos enleando a visão com a bela Sirius acompanhada da tímida Procium... até que o clarão dos raios avermelhados do Sol começam a inundar o horizonte leste....

A Via Láctea pode bem ser vista até Deneb, aqui no Sítio das Estrelas... Quando a noite cai, o revirão dessa Via parece ter chegado à sua conclusão.... porém ainda podemos acompanhá-lo varrendo a noite, quase com puxando as estrelas que chegam no leste e empurrando as estrelas do meio do céu para caírem no horizonte oeste....  Os braços da Via Láctea, centralizados no corpo do Escorpião, vão varrendo o céu vindo do sudeste, caminhando para o leste, passando pelo noroeste, pelo norte, pelo noroeste, pelo oeste... e ainda pelo sudoeste, pelo sul, novamente pelo sudeste, noite após noite.  É um girar intenso, como se fosse um dançarino sufi, girando e girando e girando e nos trazendo o êxtase.

O Cruzeiro do Sul aparece bem alto, o mais alto que consegue chegar, acompanhando a caída do Navio no horizonte oeste e trazendo maior brilho às presenças do Escorpião, do Sagitário.... e certamente, da Via Láctea que continua fazendo seu revirão noite a dentro.  Não se esqueça, Caminhante, de bem observar os Sacos de Carvão e dos conjuntos brilhantes de estrelas juntinhas que vão se formando após o Cruzeiro e indo em direção ao Navio que navega bem mais distanciado, em mares longínquos, buscando por outras paragens e retornando apenas na madrugada anunciadora das estrelas e suas constelações que vão surgir no leste.

Arcturus também continua encantando nossa visão.... e para aqueles que possuem um norte escuro e de horizonte baixo, a Ursa Maior se insinua querendo também trazer consigo o Dragão (desaparecido nesta latitude).

Porém, os céus do norte estão felizes com a presença da Coroa Boreal, que parece um colar que todas as mulheres gostariam de usar! Porém, cautela! Esse valoroso colar é guardado por Hércules que ainda mal se articula em sua figura engraçada surgindo no horizonte leste mais ao norte...  E também guardado pela cabeça da cobra que o Ofiúco segura.

Quando agosto entra trazendo suas queimadas e já uma certa poluição tirando a escuridão plena e a transparência cristalina dos céus da roça, com sorte, ainda podemos nos deliciar com as travessuras do desajeitado Hércules, agora mais alto no céu do norte, acompanhado, em lugares de horizonte bem baixo, pelo Dragão que guarda as estrelas que rodeiam o polo norte, longe de nossa visão.

Digo que o Hércules é todo desajeitado porque é assim que o vejo. Lembro-me bem da primeira vez que o delineei, eu até ri, mesmo!

Cada vez mais o Cruzeiro do Sul cai em direção ao horizonte oeste mais ao sul ao mesmo tempo que também o Escorpião vai alcançando o meio do céu seguido do Sagitário, com seu Bule de Chá,  que dá lugar ao Capricórnio que começa a querer se levantar no horizonte leste, ainda ao sul.

Nesse tempo do inverno já bem andado, eu adoro ver minha estrela preferida, Vega, tocando sua Lyra e surgindo atrás dos morros do leste mais ao norte....  Sempre que eu me vejo diante da Lyra segurada por Vega,sua alfa, eu me flagro suspirando, inteiramente enleada, como se pudesse escutar o doce som das cordas desta constelação! 

A bem da verdade, o céu do inverno nos presenteia com um triângulo de estrelas muito interessantes: Altair, alfa da Águia, Vega, alfa da Lyra, e Deneb, alfa do Cisne.  São estrelas belíssimas que fazem parte de belíssimas constelações! 

O Cisne é de uma perfeição incrível em seu vôo, parece estar sempre alçando vôo, abrindo suas asas imensas, buscando as alturas, sempre.

A Águia sempre surge apresentando três estrelas - uma delas, Altair, sua alfa - que caminham sempre juntas e que podem ser vistas após a conclusão de todo o corpo do Capricórnio, com seu aspecto de fraldinha tecida por estrelas suaves que delineiam a figura desta constelação.

É bom também observarmos, ainda entre o Sagitário e seu Bule de Chá e o Capricórnio, um pequeno grupo de estrelas que sugere uma pequena cruz, um tímido diamante, algo assim, verdadeira maravilha para ser visto em lugares de céus bem escuros e transparentes.

Eu aconselharia o Caminhante dos Céus aguardar a chegada do Capricórnio e da Águia para então olhar mais ao norte e se encantar com a Lira... e um tantinho mais tarde ainda, suspirar com o Cisne voando amplamente nos céus estrelados.  E, olhando mais ao sul, observarmos o vôo do Grou balizado por sua estrela-alfa, Al Nair.

A partir de então, podemos olhar para os lados do sul e observarmos a chegada do Peixe Austral com sua estrela-alfa, Fomalhaut.  Estamos bem já sendo colhidos pelas ondas marolantes e em verdadeiro zigue-zague formadas pelo Aguadeiro, Aquário!  A meu ver, esta constelação é um dos eventos mais interessantes a ser observado nos céus estrelados e isso somente pode acontecer em lugares de céus realmente escuros e transparentes!

Bem ao sul, podemos observar pássaros voando, Fênix e Tucano.  No entanto, a estrela que realmente nos chama a atenção é Achernar, a alfa do Rio Erídano, sua Foz, e este Rio vai correndo sinuosamente e através suas tímidas estrelas até encontrar os pés do Gigante Órion, em Rigel, sua estrela-beta, já em terra firme.  É interessante repararmos o fato de que o Rio Erídano caminha em direção ao leste e neste momento de inverno, podemos acompanhar seu desaguar junto ao Gigante caçador do Escorpião porque a constelação de Órion ainda pode ser vista em todo seu esplendor de estrelas ao final da noite, quando o galo desentrelaça suas asas e começa a cantar anunciando um novo dia que não tarda a chegar!  (Aqui no Sítio das Estrelas meu simpático galo nos acorda com seu canto por volta das quatro horas da matina!).

Nos céus do norte, é interessante observarmos que as estrelinhas marolantes do Aguadeiro parecem querer se entrelaçar com as estrelas também tímidas dos Peixes.  Nesse momento estamos diante de um mito realmente encantador que apresenta no céu estrelado do norte todos os componentes de sua estória, começando pelo Cavalo Pegasus em seu grande quadrado sendo seguido por Andromeda, a donzela acorrentada numa ilha por sua madrasta Cassiopéia esposa de Cepheus.  Andromeda será salva pelo herói Perseus.  A Via Láctea ilumina com seu leite as constelações do pai, da madrasta e do herói salvador, todas bem ao norte e não muito facilmente identificáveis aqui, no Sítio das Estrelas (porque para estes lados fica a cidadezinha de Mar de Hespanha e sua iluminação pouco generosa com o céu estrelado).

... ‘Stamos em pleno mar... - como diria o poeta português, Camões.  Ao sul dos Peixes nos deparamos com a imensidade da constelação de Cetus, a Baleia que quer devorar a bela donzela acorrentada, Andromeda.  Este é um mar interessante pois que também apresenta a Foz do Rio Erídano e todo seu correr sinuoso, desde o sul até o sudeste, para encontrar os pés do Gigante Órion, já em terra firme.  No entanto, este mar interessante nos apresenta, bem ao fundo (do ponto de vista de quem está bem ao norte, certamente) a estrela maravihosa e alfa do Navio, seu capitão Canopus!  Sempre que virmos Canopus podemos ter a certeza de que Sirius chegará logo depois!  E Sirius faz parte da comitiva do Gigante Órion, com seus Cães Maior e Menor, todos já em terra firme.

Não podemos deixar de divisar os dois círculos formados pelas cabeças dos dois Peixes.  Um destes circulo encontra-se logo ao norte do grande quadrado do Cavalo Pegasus e é bem ali que podemos encontrar o chamado Ponto Vernal, o lugar onde a Eclíptica encontra-se com o Equador Celeste.

Olhando para o sul, poderemos ver a Pequena Nuvem seguida  pela Grande Nuvem de Magalhães. Aqui na roça, um antigo caseiro meu, as chamava de as Mulas do Presépio de Jesus! Fernão de Magalhães que nos perdoe!

Os mares terminam deixando entrar em cena as duas estrelas ponteadoras de Áries, o Carneiro, e depois, surge o campo onde o Touro pasta, sempre antecedido pelas estrelas que choram, as Pleiades, um tercinho de estrelas, verdadeira maravilha sempre a ser visitada por nossos olhos...

Já estamos na madrugada sonolenta quando entra em cena o Gigante Órion acompanhado do Cão Maior e este embelezando os céus com a presença de Sirius, a bela das belas.  A Via Láctea já retorna à nossa visão, o Navio vai se mostrando por inteiro, os Gêmeos já se mostram conversantes, como sempre... 

Não deixe de dar uma olhada no Céu da Primavera, se você estiver desejoso/a de passar a noite inteira observado as constelações e suas estrelas em marcha céu adentro céu afora... ou se você estiver retornando de um programa noturno e perder o sono... ou se você gostar de acordar bem cedo, já com o canto do galo...



O CÉU DA PRIMAVERA
No Sítio das Estrelas

Janine Milward

OBSERVAÇÃO DE CONSTELAÇÕES E ESTRELAS
À VISTA DESARMADA OU ATRAVÉS DE BINÓCULOS


O Cruzeiro do Sul já se despede de nossas noites quando chega outubro. E num movimento de seguimento, o Escorpião também desliza em seu caminho rumo ao sudoeste, carregando consigo o Sagitário, a Coroa Boreal, Hércules...

A côrte do céu, no entanto, está formada pelo triângulo do norte, a maravilhosa Vega tocando sua Lyra, a esplendorosa Altair voando a Águia e a não menos formosa, Deneb, a cauda do belo Cisne.

Ainda rodeando Altair, encontramos algumas pequeninas constelações que são verdadeiras preciosidades: Sagitta, a Flecha, o Delfim, Equuleus - constelações compostas por tímidas estrelas que podem ser vistas apenas em locais de céus escuros e transparentes.

É bom tempo para estudarmos as estrelas que formam o grande triângulo do Capricórnio e também nos prepararmos para mergulhar dentre as estrelinhas marolantes do Aquário.... já entrevendo a chegada do cavalo alado Pégasus, no horizonte leste mais ao norte.

Também já surge no leste, mais ao sul, o pássaro Grou, uma verdadeira beleza voadora nos céus balizado por sua estrela alfa Al Nair, ao mesmo tempo, que já no mar ao sul do Aquário, podemos ver o Peixe Austral com sua bela estrela Fomalhaut.

Se o tempo ajudar e se a seca comprometida pelas queimadas não estiver maculando nosso céu, por que não continuarmos a estudar os Peixes?  Por que não nos embevecermos com a visão das Nuvens de Magalhães?

Com novembro chegam as chuvas... tão ansiadas chuvas - aqui na Zona da Mata das Minas Gerais! Benditas águas que caem dos céus, despencadas, quem sabe, pelas águas do Aquário, do Peixe Austral, e também com o aparecimento dos Peixes que nadam juntos com a Baleia Cetus.... Entre o Aquário e os Peixes, existe o ponto da interseção da eclíptica com o equador celeste, o ponto vernal trazendo o equinócio.  Este ponto também apresenta-se bem próximo ao grande quadrado de estrelas que formam o Pegasus, o cavalo alado que carrega Perseus em sua intenção de salvar Andromeda, a bela - e é interessante observarmos que também esta Galáxia nossa irmã encontra-se nos arredores do ponto vernal.

O cavalo alado Pégasus já salva a heroína acorrentada, Andrômeda, um tanto que antecedidos, em norte bem baixo, por Cepheus.

O Cruzeiro do Sul bem como o Escorpião se despedem do palco dos céus do anoitecer... Porém, Achernar, a foz do Rio Eridanus novamente surge, brilhante e maviosa, no leste do sul bem sul mesmo!

Em dezembro, se as chuvas nos derem alguma trégua, podemos nos deixar maravilhar com a linha sinuosa do caminho que o Rio Eridanus segue... mesmo que ainda não possamos ver o gigante caçador Órion, ao anoitecer, apenas um tanto mais tarde em noite de já quase verão quente.

Ao norte, em horizonte bem baixo, Cassiopéia nos deixa ver algumas de suas estrelinhas. Andrômeda e o cavalo alado Pégasus surgem imponentes no meio do céu. Por que não procurarmos por Andromeda, a Galáxia? Mesmo com um simples par de binóculos, esta visão se faz encantadora: é uma emoção imensa, realmente, observarmos nossa querida irmã... porque mais dia menos dia possivelmente nos uniremos a ela de maneira a nos tornamos irmãs siamesas... No horizonte leste, mais ao norte, entra Áries, o Carneiro, ao lado do Triângulo.

A noite vai seguindo seu curso e novamente podemos nos deixar encantar pela via leitosa, a Via Láctea, fazendo parte dos céus do norte, vindo de Perseus e ladeando as Pleiades (que bom, assim essa preciosidade da constelação do Touro não fica comprometida pelo chumaço de algodão) bem como a cabeça do Touro sempre nos mostrando seu Olho Iluminado, Aldebarã.  A Via Láctea abençoa o Cocheiro e sua  bela estrela-alfa, Capella, e então segue rumando mais ao sul, encostando no Gigante Órion, sempre garboso e pronto para caçar o Escorpião (que mora do outro lado do céu exatamente para não ser caçado!)  e enchendo de luz esfumaçada, esbranquiçada, o Cão Maior que nos brinda com a majestosa presença da mais bela da noite, Sirius, a mais brilhante dos céus e também tão próxima a nós (somente 8 anos-luz de distância).

O mito da donzela acorrentada, Andromeda, começa a desaparecer de nossas vistas, com o horizonte oeste engolindo Cepheu, o Cavalo Alado Pegasus, Andromeda, a Baleia Cetus, Cassiopéia... e, com a entrada em cena de Áries e do Touro, também Perseus começa a se despedir de nós.  Aquário e Peixes também saem do palco estelar.  O belo Triangulo formado pelos três pássaros, Águia, Cisne e Vultur (outra denominação para a Lira), também podem ser vistos apenas no começo das noites de dezembro, caindo no horizonte oeste logo depois.

Ao longo da noite, Achernar começa a carregar o sinuoso Rio Erídano consigo, caindo no horizonte oeste, enquanto Canopus vai capitaneando o Navio que vai surgindo cada vez mais belo, mais imponente, silenciosamente singrando as águas celestes.  Também o Navio acaba sendo encontrado pela Via Láctea que busca encantar nossa visão acendendo o Cruzeiro do Sul, o Centauro, todos ao sul...

O Caminho da Eclíptica já nos deixou ver os Gêmeos conversadores, o Presépio no Caranguejo sendo guardado pela cabeça da Hydra e emocionado por seu coração laranja, Alfard, e esta cobra da água já se mostrou rastejando através a Taça e o Corvo, saudando o Leão, a Virgem, e encontrando a Balança.

Não deixe de dar uma olhada no Céu do Verão, se você estiver desejoso/a de passar a noite inteira observado as constelações e suas estrelas em marcha céu adentro céu afora... ou se você estiver retornando de um programa noturno e perder o sono... ou se você gostar de acordar bem cedo, já com o canto do galo...



O CÉU DO VERÃO
No Sítio das Estrelas

Janine Milward

OBSERVAÇÃO DE CONSTELAÇÕES E ESTRELAS
À VISTA DESARMADA OU ATRAVÉS DE BINÓCULOS



Em janeiro, se as chuvas nos derem uma trégua – pelo menos durante o anoitecer... aqui na Zona da Mata das Minas Gerais – podemos nos deitar no deck em frente ao grande lago do Sítio das Estrelas e nos deixar levar pelas estrelas e suas histórias celestes....

Todo o mito de Andrômeda salva por Perseus cavalgando seu cavalo alado Pégasus está no céu, na ilha do céu, onde a donzela foi acorrentada por sua madrasta Cassiopéia que não pode ser vista adequadamente nesta latitude... Nesse mar, estão o Aguadeiro (Aquário), o Peixe Austral, os Peixes juntamente com Cetus, a Baleia... ao mesmo tempo que voam nos céus celestes os pássaros Grou e Fênix, mais ao norte. Com a entrada do Carneiro, Áries, parece que pisamos em terra e no entanto, já nos deparamos com um rio, o Eridanus, que agora, em janeiro, já nos leva a ver o gigante caçador Órion, em cujas pernas suas águas começam, em terra firme...

Sempre que vemos o Órion surgindo ao anoitecer, também estaremos revendo as Plêiades, irmãs chorosas, o Touro com seu belo olho avermelhado, Aldebarã, as Hyades.... ao norte, novamente Capela nos chama a atenção, como se fosse um farol!

Sem dúvida alguma, essa parte dos céus estrelados nos deixa absolutamente enleados, quase que sem respiração... porque a Via Láctea nos abençoa com sua presença esfumaçada e escondendo vários pontos interessantes a serem observados através nossos binóculos.

Sírius, a rainha da noite, também nos encanta a visão nesse já quase final de verão, fevereiro de nossos carnavais... Procyon segue Sírius, como sempre, e ambas estrelas seguem o caçador gigante Órion... Canopus volta a capitanear seu imenso Navio (desmembrado em Popa, Vela e Carina - não sei por qual razão....) E eis que ao leste, bem ao sul, bem ao sul... retorna o Cruzeiro aos nossos céus da noite!

Mais ao norte,  podemos ver os dois Gêmeos conversando animadamente a caminho do meio do céu. Câncer continua protegendo em seu ventre seu ninho de estrelinhas-crianças, o Presépio. A Hydra também re-aparece em sua cabeça triangular, mostrando depois seu coração, Alphard.... e com o andar da noite e dos meses, todo o seu corpo serpenteando várias constelações...

O Leão surge garboso como sempre com suas estrelas Regulus e Denebola - a primeira na pata e a segunda, na cauda -, dando lugar à Virgem que surge antecipada pelo vôo do Corvo.  Sempre a Virgem nos faz voltar nossa visão para a encantadora Spica, sua estrela-alfa.  E sempre também a Virgem nos faz voltar nosso desejo de observarmos a luz amarelada e intensíssima advinda de Arcturus, a estrela-alfa do Boeiro.  Não podemos nos esquecer que entre o Leão e o Boieiro existe a Cabeleira de Berenice, um presente dos céus escuros e transparentes, realmente.

Se olharmos para os céus do norte, poderemos divisar o Leão Menor, os Cães de Caça, e com muita sorte, as patas da Ursa Maior. 

Se olharmos para os céus do sul, estaremos suspirando mais e mais com a visão encantadora, cativante, maravilhante, da Via Láctea realizando seu caminho através o Navio, a Cruz, o Centauro e preenchendo todos os espaços que unem estas duas últimas constelações ao Escorpião que entra em cena trazendo nossos olhares mais e mais ao sul, sendo antecedido por suas duas Garras, ou seja, a constelação da Balança.

Sempre que o Cruzeiro do Sul aponta para seu momento máximo de zênite possível para uma constelação muitíssimo ao sul e muito próxima ao pólo sul..., entra em cena a majestosa constelação do Escorpião!

Entrando no palco celeste o Escorpião, é tempo de nos deixarmos maravilhar com a Via Láctea encontrando seu ponto máximo de concentração, digamos assim, pois aos pés desse rastejante animal celeste encontra-se o ponto para onde podemos dirigir nossos pensamentos para encontrarem o centro de nossa Galáxia!

Para enfeitarmos e saudarmos esse evento, sempre podemos nos brindar com a doce visão da Coroa Austral, já bem próxima a Sagitário, e da Coroa Boreal, entre o Boieiro e Hercules e guardado pela cabeça da serpente que o Ofiuco segura.

Se o Caminhante estiver num lugar de norte bem baixo, realmente, poderá tentar observar algumas estrelas que compõem o Dragão que guarda o norte dos céus estrelados, o pólo norte.

Quando o galo estiver cantando, ainda antes do Sol surgir no horizonte leste anunciado por clarões avermelhados..., com sorte poderemos novamente nos fazer felizes como a entrada em cena do Capricórnio apontando para o norte que acolhe a estrela Vega, a alfa da doce e bela e sutil Lyra, e nos trazendo a esperança da chegada próxima da Águia, também acolhida pela Via Láctea, e sempre nos mostrando suas três estrelas que voam juntas!

Não deixe de dar uma olhada no Céu do Outono, se você estiver desejoso/a de passar a noite inteira observado as constelações e suas estrelas em marcha céu adentro céu afora... ou se você estiver retornando de um programa noturno e perder o sono... ou se você gostar de acordar bem cedo, já com o canto do galo...


Março marca o final do verão e o início do outono...

Quando o outono chega, aqui na Zona da Mata das Minas Gerais, as chuvas do verão vão escasseando de tal forma até se tornarem apenas uma lembrança... As noites voltam a mostrar suas estrelas em céu sem nuvens e o ar bem mais seco permite que suas luzes fiquem bem mais brilhantes e piscantes contra o pano de fundo da escuridão da abóbada celeste. Por que não aproveitarmos esses tempos de início seca do outono para observarmos o céu noturno, em belo passeio?

Ao começar nosso tour celeste, nestes dias de final de março.......................................................................................................................................................................................................................................................... (você pode retornar ao começo de nosso texto.... porém, já certamente sabedor de alguns dos tesouros dos céus estrelados!)


Com um abraço estrelado,
Janine Milward
Sítio das Estrelas
Parada de um caminho a Caminho do Céu